quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Sugar Blues (poema de Bruna Beber)




um corpo em chamas
rolando pela escada
de incêndio do meu prédio

era você
vírgula
meu bem
vírgula
era você
interrogação
eu avisei para não brincar
de molhar meus barcos
de papel

eu avisei que não se pode viver
como se faltassem
poucos dias para o carnaval

você indo embora com o foco da coqueluche
e aliviando a vizinhança
você subindo aos céus com os passarinhos mortos
por crianças más
com estilingue

era você se desfazendo
na doce baforada
da janela aberta
numa manhã de calor

era você em pó
em papel picado
no tapete do asfalto
na roupa branca dos médicos
e no antigo toldo do açougue
do andar de baixo

agora eu vou rezar pela sua alma
por um emprego novo
e por um vício a menos
enquanto passeio pela cidade
num ônibus circular
numa quarta-feira de cinzas.

Um poema de Mário Bortolotto






Ela Veio da Paraíba com Duas Libras

Eu espero pacientemente que ela apareça
com suas tatuagens, seus selos canadenses,
o último cd do Jeff Buckley
sua aliança de noivado
sua sede inextinguível
sua amnésia oportuna
seus pecados mais que mortais
Eu espero que ela permaneça por aqui
com seu silêncio devastador
com frieza lendária
sua dança da chuva
sua fome de groupie
eu espero que ela se movimente pra mim
com seus anéis
seu pescoço animal
seus lábios de gasolina
seus dreadlocks
eu espero que ela gaste todo o seu dinheiro comigo
que me apresente a suas amigas
que me leve pra vê-la dançar
que me transmita suas doenças
Eu espero que ela venha cantando um balada
do Lenny Kravitz
que venha confundindo o tráfego
com seus truques de malabarismo
com seu cinismo incompreendido
ela vai pisar com suas sandálias de névoa
em meu coração
ela não vai aparecer
eu a amo
então chamo um táxi e volto pra casa.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Rogério Sganzerla e as ânsias de dois jovens na década de 1960

Sabe aquela música que te inspira? Aquele filme que te eleva e te faz querer fazer igual? Hoje eu vi um curta-metragem chamado “DOCUMENTÁRIO” do Rogério Sganzerla, o mesmo diretor de “O BANDIDO DA LUZ VERMELHA.” É o primeiro curta do Sganzerla, filmado quando ele tinha apenas 19 anos em 1966, época em que a qualidade do áudio e da imagem deixava muito a desejar, e mesmo assim é encantador. A idéia é simples, direta e ao mesmo tempo confusa, tanto na câmera, nos planos, nos diálogos, enfim, algo que caracteriza o jovem, tanto da década de 1960, quanto o de hoje em dia. Dois jovens amigos andando pelas ruas de São Paulo e divagando sobre filmes da época (em uma pequena pesquisa, eu descobri que nesse período existiam cerca de 300 filmes em cartaz ao mesmo tempo), quadrinhos e a contemporaneidade da época. Assistindo a esse curta eu lembrei de outro que me estimulou tanto quanto “QUERO SER JACK WHITE” (2004) de Charly Braun, que conta a história de dois adolescentes que se encontram em uma loja de vinis e a partir daí começam a explorar as suas sexualidades. Vale muito dar uma conferida nos dois curtas.


“DOCUMENTÁRIO – ROGÉRIO SGANZERLA”



“QUERO SER JACK WHITE – CHARLY BRAUN”
http://salabr.com/2010/03/23/curta-quero-ser-jack-white/

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Muito Inteligente!


Bêbada (letra nova)

Satisfaz seu ego
Mete em si mesma
Lubrifica a boca
Passa a mão na mesa
Pensa que a noite é pouca
Para tanta coisa na cabeça
Sente que a alma é louca
Reza que amanhã a mente esqueça

Refrão:

Bêbada! (4 x)

Yo só quiero un hombre
Que me entregue todo o coração
Alguém que não reclame
Caso eu suba no balcão

Yo no se o teu nombre
Yo no se nem donde estoy
Posso até ficar sozinha
Se o meu amor já foi

Mas não me chame de querida
Não gosto de intimidade
Pague logo outra bebida
Vou dizer umas verdades...

Bêbada! (4x)

Abílio Dantas e Paulo Luz

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Blues Vermelho (Abílio Dantas)

Vermelho-sangue escorrendo
dos teus cabelos em V
Mesmo que eu fure telhados
Nunca consigo te ver
O teu silêncio me agride,
me sequestra e me afaga:
noites em caixas d´água (2x)
Ketely Stefane
O que fazes aqui?
Já é hora de dormir.
Ketely Stefane
O que fazes aqui?
Já é hora de dormir
Já é hora de sair
e esconder esse sangue
por aí...

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Rei da noite (Roni)

Ele mora sozinho
Num beco triste
É o rei e seu bandolim

A noite cantando
Escurece até o fim
Ao cair na esquina
Derrama um pouco de Gim

Não há por que voltar
Cedo pra casa
Seu lar é na rua
Das madrugadas

Ele é o rei (rei)
De um reino sem corte
Das sombras da noite
Das minas de um outro bar

Sim, ele é rei (rei)
De um reino sem sorte
Dos barcos sem botes
Das ruas de qualquer lugar


Atrasa o sol quando ele chega
E dorme na mesa
Fingindo cantar
Alguma coisa sobre o mar

Sonha versos
Que nunca vai escrever
Vive a vida dos livros
Que precisou vender

Ele é o rei (rei)
De um reino sem corte
Das sombras da noite
Das minas de um outro bar

Sim, ele é rei (rei)
De um reino sem sorte
Dos barcos sem botes
Das ruas de qualquer lugar

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

O Ser Alternativo!

Alternativo?

Alternativo?
Hoje, ao tomar banho, me peguei pensando em um rótulo que vive me circulando, o tal do “alternativo.” Não sei direito ao que se referem quando tratam desse assunto, ser alternativo é cursar filosofia ou sociologia? Então eu não sou alternativo, minha irmã é alternativa! Será que ser alternativo é freqüentar circuitos alternativos de cinema e arte em geral? Então eu sou alternativo e minha irmã não é! Segundo definição do miniaurélio digital: al.ter.na.ti.vo é um Adjetivo.
1.Que se diz, ou faz, ou ocorre com alternação.
2.Que permite escolha.
3.Fig. Que não está ligado a grupos ou tendências dominantes; que adota posição independente.
Ou seja, todo mundo é alternativo! Não tem como dizer que uma tendência é dominante, quem é que faz a mesma coisa, da mesma forma durante toda a sua vida? quem é que não permite escolha? Esse rótulo é tolo como tantos outros que existem por ai, seja você mesmo que você estará sendo alternativo ou não seja você mesmo que você também estará sendo alternativo.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

A ótima cartada de Paulo Halm, “HISTÓRIAS DE AMOR DURAM APENAS 90 MINUTOS” de 2010.


 A estória narrada pelo personagem principal, Zeca, vivido por Caio Blat, trata de problemáticas contemporâneas como um triângulo amoroso vivido por ele, sua esposa Júlia (Maria Ribeiro) e a dançarina e aluna de Júlia, Carol (atriz Argentina Luz Cipriota). Talvez o fato de Caio Blat e Maria Ribeiro serem, de fato, um casal tenha trazido para o longa um tempero a mais, o que fica muito evidente ao assistirmos os extras do filme. Carol é uma mulher linda, com 20 e poucos anos e que sabe o poder de sedução que tem, isto faz com que Zeca, de 30 anos, comece a fantasiar um caso entre sua esposa e Carol, criando, em sua mente fértil, diversas situações envolvendo as duas personagens. Essas fantasias de Zeca fazem com que o telespectador perca a noção do que é a realidade e o que não é durante o filme. Zeca vive as custas de seu pai (Daniel Dantas), que é um leitor assíduo e frustrado por não ter o talento do filho para escrever, esse desejo de ser escritor faz com que seu pai o pressione para que termine o seu livro, um romance que não passa da página 50. A metáfora presente nessa situação é muito fácil de ser identificada em alguns jovens, pois em qualquer geração o jovem é sempre incerto de seu futuro, não sabe como será o seu desfecho e acaba interrompendo o seu crescimento, deixando de evoluir e assumir compromissos. A atuação de Daniel Dantas é um assunto a parte, a simplicidade gestual é uma de suas maiores características, seria difícil imaginar outro pai para Zeca. Enfim, fico muito feliz sempre que assisto a filmes desse porte, parabéns ao Diretor/Escritor Paulo Halm e toda a equipe técnica, com destaque para a fotografia.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

A música e a Psique(ê)!

Aluguei por esses dias um documentário a respeito do Macalé, chama-se “JARDS MACALÉ – UM MORCEGO NA PORTA PRINCIPAL” e hoje mesmo eu ouvi incessantemente  um disco do Tom Zé “TODOS OS OLHOS” de 1973. Qual a semelhança entre os dois? O Simples fato de serem ultras originais, nada nem ninguém se compara a esses e alguns outros seres da música brasileira. Tendo em vista que a originalidade surge da personificação de seu DNA, ou seja, é a transfiguração da sua personalidade, do seu “Self” e daí vem a Psique, podemos dizer que as melhores criações são, então, as criações originais. Mas como criar algo original em um mundo tão globalizado, tão cheio de informações que, mesmo que você não queira, acabam massificadas dentro da sua cabeça? Eis o desafio, por isso pessoas como Macalé e Tom Zé são tão geniais, conseguir abstrair o seu entorno e persuadir as informações que brotam dos seus âmagos é tarefa de Semi Deus. Eros se apaixona por Psiquê e casa-se com ela sob uma única condição: “Não tente ver o meu rosto, não podes saber quem eu sou!” Psiquê se apaixona por Eros e quando trai sua confiança, ao desvendar seu rosto, cai em uma desgraça sem fim, passando por diversas situações assombrosas para tentar reaver seu amor. Percebeu? A paixão vem de dentro, Psiquê não precisou saber quem era o seu marido para se apaixonar, mas, ao se entregar a curiosidade, perdeu o que tinha de melhor. Com a música funciona assim também, resista a apegos externos, deixe fluir seu sentimento e o aceite, a música soará natural e originalmente.
Abs.

Paulo Luz

Central de Inteligência Coletiva do Manga

Tá, não marquei reunião, não fiz uma pauta, não discuti o assunto com ninguém... Mas havemos de convir que já estava mais do que na hora de criarmos um blog que concentrasse todas as informações advindas de todos os colaboradores do Manga. Temos que aproveitar nosso potencial artístico, que, felizmente, não se limita a criações musicais, são poesias, contos, críticas, ações... enfim, uma infinidade de coisas que todos têm o direito de conhecer. Vamos concentrar nesse blog tudo que interesse a todos.
E pra fincar a bandeira aqui neste blog, iniciemos com um video supimpa da música "Te reviro blues" gravada ao vivo no Studio Pub Belém em meados de 2010, data esta tão longínqua em nossos pensamentos!